domingo, 12 de setembro de 2010

BANHO DE LUA

A lua continua sua incursão pela natureza. Não posso vê-la no momento. Naturalmente, está cumprindo a missão que lhe foi destinada: vencendo, dialeticamente, sua trajetória num 'contínuo' circular de altos e baixos, de claros e escuros, de luzes e sombras.
Por isso, por esperá-la no cumprimento dessa missão, não coloquei minha cadeira na calçada da casa onde moro. Esses momentos são especiais. Coletivos, de múltiplos espaços, Hoje, não há momentos, apenas, para reviver tradições e costumes sertanejos. Neste momento, além da escuridão, há muito barulho na cidade, afetando minha rua. Há festa com dança e música, há buzinaços, há roncos de motores dos automóveis, há gritos de euforias dos homens e mulheres, há sons de pagodes, axés com batidas originariamente diversas, em tambores e tamborins.
E a noite vestida de negro, contaminada por esses sons espalhados pelos ventos, não é propícia a aconchegos nas calçadas. Alguns, solitários, costumeiramente, arriscam-se a balançar-se em sua cadeiras; outros, preferem esperar o retorno do brilho da lua, como eu.
Nesse retorno à tradição, as calçadas revestem-se de luzes - um misto de prazer e sedução -, quando em noites do banho dourado da lua. Seus raios diáfanos, claros, permitem-nos avistar, de longe, as pessoas em grupos pelas suas calçadas, participantes dos saraus de poesias e canções, de risos, de falas, de abraços, de alegria e saudade, enfim, de emoções diversas.
E, ainda, é possível cumprimentar e abraçar os que caminham pela rua - 'os passantes' -, aqueles que desejariam, também, estar ali, participando da homogeneidade do grupo, naquele aconchego singular: recordando fatos do passado, fazendo planos, contando de suas esperanças, vitórias ou de suas desventuras, enfim, trocando idéias, contando 'causos', jogando conversa fora durante aquele banho de lua.
Ali, naqueles momentos singulares, às vezes, todos falam ao mesmo tempo... Quem sabe... Talvez, na próxima lua cheia, tudo tenha mudado... Porque, como disse um poeta: "A vida é, apenas, um instante que passa".
E num outro olhar por esta rua, de onde estou, diviso um rio que a corta banhando-a com suas águas - ora turbulentas, ora mansas -, lá no começo da ladeira, onde os homens e mulheres iniciaram a história desta cidade: esta foi uma de suas ruas nacituras, construídas pelo esforço dos que aqui chegaram, aqui viveram e cresceram, impregnados da Fé e Amor à Sant´Ana.

2 comentários:

  1. Saudade dos tempos das conversas nas calçadas, da convivência com pessoas simples.

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  2. A CONVERSA NA CALÇADA É A TERAPIA DO INTERIOR.E O MELHOR É QUE NÃO CUSTA NADA. BEIJOS.

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