sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Z I L A

Trouxe flores para você:
uma guirlanda colhida dos milharais
plantados em sua Rosa de Pedra
onde as flores amarelas das espigas
transformaram-se em loiras bonecas.
Dos milharais vermelhos trouxe, ainda,
vermelhas papoulas para lhe adornar.

Trouxe amor para você, um amor puro
para compensá-la do seu
[...] arrastado amor antigo
desmanchado do contigo
desfibrado do comigo
quebrado na encantação[...].
Que se foi, [...] que era nada,se acabou.

Quero, então, cantar uma canção
ao colher as flores, abraçando-as,
versos burilados por você
plenos de ternura e saudade:
[...] Agora é tudo um sol encantamento[...]
"as ramas do algodão reverdecidas
habitam-se de flores amarelas[...]"

E junto à canção que canto
entrego-lhe as flores multicores
- cheias de lirismo e amor -
colhidas para realçar sua beleza
em manhã clara de sol
amornando seus cabelos,
exaltando seu caminhar na terra.

(Tributo aos 81 anos do nascimento de Zila, ocorrido a 15 de setembro. Utilizei alguns excertos de seus poemas, em NAVEGOS, Ed. original).

VISÃO

Nas pedras de Petra
pretas pedras deslizam
vento areia sol
luz e sons
formas cores emoção.

De longe
meus olhos enxergam
nas fendas pétreas
flores róseas bailando ao vento
presas no pétreo chão.

CONTOS DE UM PASSADO PERFEITO

"Este livro precisava ser repartido como o Pão de Cristo, precisava ser multiplicado como os Eus do poeta português Fernando Pessoa, precisava ser compartilhado com as crianças da idade de Anis".

Com esse sentimento de partilha, Maria Maria escreveu seu terceiro livro, não somente para crianças. Nele, os adultos incursionam pela infância, num retorno maravilhoso aos seus sonhos e desejos, marcas indeléveis para a realidade.

Compartilhe com esse momento de alegria para a autora, no dia 13 de dezembro, às 19 horas, em A VILLA, Currais Novos-RN.

Postado por Maria José Mamede Galvão

terça-feira, 15 de setembro de 2009

FALSA ODE CAMONIANA - Zila Mamede

aos que amam Zila e sua poesia

Se nesta ode eu te ofereço o canto
do meu amor contido, como a rosa,
possa minhalma desvendar-se em quanto
alumbramento ela se oculta; possa
doar-se, a ti falar com desassombro
dessa ternura, desse amornamento
que me possui, me pousa, me acalanta
quando, em te vendo, meu amor te alcança.
Que despertar-te tanta vez subido
ao pensamento para dar-se, desça
dos olhos; pássaros migrando teu
abandono, pousem depois, campinas
que, no lirismo teu, hás de habitar.

* Poema publicado no livro NAVEGOS (original)- Exercício da Palavra, p. 70, Ed. VEGA S.A., Belo Horizonte, 1978.

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

A Ponte

Natal!
Ribeira!
Cais!
Ribeira cais
dos barcos
dos barcos de vela
"de vela panda ao vento"
dos barcos de remo
dos barcos velozes
jangadas...

Cais da Ribeira
"do Potengi amado":
o rio das pontes
- a velha e a nova.
O rio dos homens...
os homens passaram...

"Salto esculpido"
sobre o vão de água
em chão de água
em verde chão de água
em verde chão de água do Rio
em verde chão de água do Rio Potengi!
Os homens chegaram...
Os homens cantaram...

A P O N T E!!!!!!!!!!

quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Sou raíz, sou chão
pássaro e aboiadeiro
sou rio, sou canção
cancela e caminheiro
sou chuva, sou trovão
minério e cavaleiro...


Sou sol, sou amanhecer
lajedo, açude e calor
sou cacimba, sou entardever
vereda, espinho e flor
sou lua, sou anoitecer
poema, viola e cantador...

Sou a seca, sou Seridó.

. Poema extraído da Introdução do livro de minha autoria, Entre sertãO e mar:
CAMINHOS, Natal, EDUFRN, 2007.

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

HOMENAGEM AO CENTENÁRIO DO GRUPOE SCOLAR "TOMÁZ DE ARAÚJO"

Na data de 13 de março de 2009, Acari aplaudiu, em toque de clarim (como num prólogo), o nascer desta escola no ano de 1909. A Matriz da Virgem da Guia vestiu-se de flores ao som dos cânticos do Coral "Amália Rodrigues de Carvalho"; das palavras proferidas em homenagens diversa; e da sonoridade inconfundível da Filarmônica "Felinto Lúcio Dantas" - um prenuncio do grande preito ora acontecendo.
Este momento da Festa de Nossa Senhora da Guia foi uma escolha ímpar e criteriosa para a culminância das homenagens exaltando a grandeza desta escola: cem anos de educação, cultura e tradição aqui disseminadas. Portanto, esta mensagem está impregnada de saudades, de emoções diversas, na significação mais pura para os acarienses que se sentaram em suas carteiras, transeuntes das salas de aula, cujo diálogo professor-aluno gravou-se em sua alma e foi ressonância para além, através das largas janelas da Escola.
Enaltecer o Grupo Escolar "Tomáz de Araújo" é falar de uma escola de vida, de alegria e criatividade; escola de grandes mestres e alunos brilhantes. Escola que durante cem anos de existência, tentou acompanhar as mudanças na educação e na cultura, onde a prática curricular se desenvolvia coerente com o crescimento do Acari, e com o progresso em termos de Estado, Brasil e do Mundo, neste terceiro milênio.
Para este evento foi inprescindível o esforço coletivo dos que hoje compõem esta escola - gestores, supervisores, professores, fucinários, alunos e os pais; e, ainda, os que por aqui passaram - os diversos atores que proporcionaram a educação, e aqules que a receberam, viandantes do tempo, para o ato único na sublimação do homem - O ENSINAR E O APRENDER.
E, desde os primeiros mestres que essa emoção - a sublimação desse ato - conduziu os homens e mulheres do Acari à descoberta do mundo através das janelas da alma. Desde a Carta de ABC, a Cartilha Ensino Rápido; os primeiros cálculos aritméticos; a geometria; a caligrafia e o ditado; o desenho, até os modernos recursos de aprendizagem - livros, revistas, fotografias,internet, pesquisas científicas diversas, natureza. Os que caminharam por esta escola, tiveram oportunidades diversas para tornarem-se pessoas capazes de projetar e conquistar sua própria destinação no mundo.
Na oferta de um ensino de qualidade, houve um esforço de toda a comunidade escolar, onde o lazer, o esporte, a criatividade - a poesia, a dança, o teatro, a música contribuissem para o somatório da cultura que cada um poude e soube amealhar.
Embora com a emoção atrapalhando meu coração, repito as palavras do saudoso escritor acariense Bianor Medeiros, em seu livro Tempo de Menino, ao referir-se às atividades rotineiras da velha escola, e que perduraram por longos anos: "as aulas do Grupo Escolar começavam às 7 da manhã. Os alunos iam chegando, com vestes simples, mas limpas e engomadas, e procuravam os lugares determinados pelos profesores.[..] Mandados entrar, após a oração devida, todos os alunos punham as mãos sobre as carteiras, a fim de que a professora examinasse se as unhas estavam limpas [...], sem deixar de examinar os cabelos, ouvidos, vestes e dentes. O asseio era indispensável e obrigado. Valia ponto." Mas, isso foi há muito tempo! É apenas uma ilustração. É importante refletir-se em seu significado.
Anos depois, ouviam-se as vozes infantis dos alunos entoando o Hino Nacional Brasileiro nesse início de aulas, e às quinta-feiras, mais solenemente, ao hastear-se a Bandeira Nacional. Ao lado dos alunos, os dirigentes, professores e funcionários assistiam atentos. Ao adentrar-se na escola, continuava-se a ouvir cânticos de saudação aos professore e colegas, bem como, de alegria pela saborosa merenda ofetada antes do recreio.
Hoje é um tempo novo. São outros homens, outros atores no processo ensino e aprendizagem. A história da educação registra, que houve grandes mudanças ao longo do tempo, na intenção de ofertar-se um ensino de qualidade, através de novas e surpreendentes tecnologias e processos avançados para o ensino.
Parabéns, portanto, a todos que deram de si e de seu amor para essa oferta, capaz de atender aos reclamos universais do Século XXI.
Parabéns, Grupo Escolar "Tomáz de Araújo". Acari, o Rio Grande do Norte associam-se ao elenco de homenagens por esse tempo tão significativo - Cem anos!
Obrigada pelo convite. Grata, ainda, por representar, com muita honra, minhas companheiras - primeiras gestoras -, que hoje se encontram numa dimensão maior: Professoras Mirtes de Araújo Bezerra, Iracema Brandão de Araújo e Almira de Araújo, aqui representadas por familiares; e ex-gestoras da atualidade, representadas pelas Professoras Jória Rivone Galvão, e Tânia Maria, atual gestora.

Obrigada, meu Deus, por fazer parte desta história, com a intercessão da Virgem da Guia!.

Acari, 11 de agosto de 2009.

MENINAS-BAILARINAS

às meninas bailarinas de Acari (anos 60)

Era uma escola antiga. De salas amplas e claras, altas paredes, povoadas de meninos e meninas em tempo de estudos, em tempo de festas. Uma delas, a maior, abriga imagens das pessoas ausentes que por ali passaram e o éco das festas sociais, das solenidades, de reuniões, das aulas. Ao fundo, um gracioso palco, um lugar de cultura e encantamento... de sonhos e de realidade. Era o centro das emoções: as grandes falas... as danças... o teatro... o canto... a poesia... o amor...
De um canto da grande sala, naquela tarde, uma vitrola antiga acionava disco negro de vinil (78 rotações). Voavam os sons ao palco, onde a dança acontecia em cenário de jardim. A agulha tocava o disco girando, girando até as últimas ranhuras. A melodia produzida repetidas vezes nos transportava a ambientes inusitados, antes nunca visto por nós...
As meninas-baiarinas, na ponta do pé, eram bonecas de louça a espera do gesto, e do som pra dança começar. De início, movimentos eram graciosidade, languidamente: sílfides beijando a flor...abelhas colhendo o mel... borboletas voando à luz do luar. Os braços arqueados subiam e desciam, em graciosos movimentos de bailarinas, tal qual folhas alongadas sacudidas pelo vento em tardes de verão.
Depois, a dança tornava-se rápida, modificava-se: em passos saltitantea, as meninas-bailarinas assemelhavam-se a peões soltos do fio, rodopiando, rodopiando, como se fosse em famosos palcos da vida... E, então, iam e vinham em círculos, de mãos dadas, do centro à fímbria, como se bailassem sòzinhas no espaço de festas - ora lentas, ora rapidamente, ao compasso da melodia húngara. Então, as meninas-bailarinas transfiguravam-se no ambiente de sonhos, como no ballet clássico, no minueto, nos bailes de máscaras, nas valsas e mazurcas dançadas em castelos medievais...
Ao final,na ponta do pé, em movimentos contrastantes, iam e voltavam do grande círculo ao centro, olhos pro alto, mãos juntas em pétalas: flores coloridas arrumadas num bouquet. Em seguida, dobravam o corpo em reverência à "grande platéia do teatro". Então, repetiam aquele movimento gracioso, à medida que as palmas multiplicavam-se em écos no antigo espaço da escola. Depois, em passos saltitantes e riso nos lábios, sumiam por trás do pano de veludo, linda cortina vermelha tremulante ao vento que soprava da janela ao lado.
À frente do grupo, esquecida do tempo, atenta e feliz, a professora aplaudia a construção artística das meninas-bailarinas naquele ensaio, ao som da melodia húngara.
Não, não foi um sonho. Aquela realidade relevou a escola antiga, e as meninas-bailarinas deixaram marcas de cultura e beleza: ressonância na alma pela gravação dos sons imortais da música de Czardas!
Hoje, ao manusear minha coleção de LPs, vejo aquelas imagens e escuto os sons incríveis daquela melodia, cuja beleza e significado me transportam àqueles momentos, num tempo irreversível, sem retorno... O tempo das meninas-bailarinas...

(Texto publicado no DIário de Natal-DN Seridó, no dia 24 de abril de 2008, aqui postado a pedido de pessoas presentes na Solenidade em comemoração ao Centenário do G.E. "Tomáz de Araújo, em Acari, no dia 11 de agosto de 2009, quando foi lido na programação oficial, por uma professora).

domingo, 2 de agosto de 2009

CARTA ABERTA A ACARI

Em agosto de 1996.


Antes, num outro momento, eu escrevera [...]"as cidades têm fisionomia, têm alma como as pessoas. Isto as tornam distintas. São singulares, únicas, não existem aos pares"[...] Estas palavras tiveram ressonância, ecoaram no meu sentimento por ti Acari, neste agosto sui generis, inspiração de poesias, cantos, amores, encontros, emoções...
Acari, quero dizer que tua fisionomia é ímpar. Não existe outra. Registra-se no desenho de tuas ruas, onde o casarão antigo destaca-se entre claras e modernas casas ajardinadas; nas belas praças e nos tapetes de flores multicoloridas das ruas; na austeridade e na imponência de tuas igrejas seculares; na velha e na nova ponte do rio Acauã; no museu e monumentos históricos; em tuas alegres escolas; no espelho de prata das águas do Gargalheiras; na moldura anilada das serras abraçando teu espaço.
Acari, quero falar, ainda, de tua alma. Tua alma é teu povo. É a história de teus habitantes. É "o que fazer" cotidiano dos homens e mulheres impressos nas marcas do tempo, na construção ininterrupta do amanhã. São as crenças, as esperanças, as angústias, as contradições das lutas do homem, na geração do desenvolvimento e da cultura. São as emoções das lembranças impregnadas no tempo, daqueles que ora habitam mansões celestiais.
Portanto, Acari, tua fisionomia e tua alma compõem uma totalidade, onde o amor e o desamor do homem escreveram tua história. Sob esta ótica, cada ACARIENSE foi uma página desse registro, na contribuição explícita, ou não para seu enredo.
Acari, em agosto tua história tem mais emoção, sentimento. É tempo de orar, de agradecer, de amar. É a festa da VIRGEM DA GUIA - momento de reencontro, de mãos acenando, de serestas, de banda de música tocando dobrados, de fogos, de lágrimas...

[...]"Acari! Agosto te encontrou em tua Igreja
azul/rosa/dourada em sombra de cruz" [...] (Maria José Mamede Galvão)

Acari, a ti a mensagem de tua ilustre filha:
[...]"Cantemos o Acari!

És tu minha cidade! de sonho alcandourado!
Diáfanos teus dias, noites enluaradas!
Beijo-te o solo, meu berço muito amado.
Se aqui não mais voltar, deixo-te o adeus
às celeres pgadas" (Izaura Dantas de Araújo, in memorian.).


(Texto publicado em Revista do Acari no mesmo ano, com algumas correções).

quinta-feira, 30 de julho de 2009

Saudações amigos poetas,

Gostaria de agradecer a todos vocês e,
especialmente, a nossa amiga Maria José
Gomes pela indicação ao selo BLOG DE OURO.

Recomendo a vocês a visita ao blog
da Maria José Gomes.
www.floresdoserido.blogspot.com


Agora, vamos às regrinhas:

1. Exiba a imagem do selo “Blog de Ouro”;
2. Poste o link do blog de quem te indicou;
3. Indique 4 blogs de sua preferência;
4. Avise seus indicados;
5. Publique as regras;
6. Confira se os blogs indicados repassaram o selo.

Os meus indicados são:

www.seridopintadocompalavras.blogspot.com
www.a-contragosto.blogspot.com/.blogspot.com
www.acaridomeuamor.nafoto.net/index.html.blogspot.com
www.anasinhana.com/.blogspot.com

Um grande abraço!

segunda-feira, 20 de julho de 2009

EU DIRIA, ATÉ, BORDADOS ANTIGOS NA VERSÃO MODERNA

O universo dos bordados à mão ou à máquina é imenso. Inseridos no contexto do Artesanato, bordados de qualquer espécie têm uma longa história. Para contá-la é preciso acompanhar a evolução dos costumes e da moda, bem como a arte de todas as épocas e de todas as civilizações recentes e longínquas. De origem humilde, contribuiu sempre para aumentar o fausto das cortes e dos palácios, de vestes religiosas e sociais, salientando-se, em nosso meio, os enxovais de noivas e bebês.

[...] DA AGULHA, LINHA E BASTIDOR -instrumentos e técnicas

É impossível pensar no bordado, sem observar-se os materiais e técnicas à sua confecção, aspectos relevantes ao deu aperfeiçoamento como objeto de arte e cultura. É preciso um repensar no seu fazer, procurando atender aos reclamos da sociedade e do próprio artesão - uma vez que ele é o dono de seu produto.

Ponto cruz, alinhavo, ponto de haste, casado (diversos), ponto paris, crivo, ponto cheio, corrente, enodados, sombra, escama de peixe, rechiliê e outros de igual importância, formam o universo do bordadeo (à mão ou à máquina). Estes pontos são básicos para a formação de outros, de acordo com a criatividade de cada artesão, observando-se a natureza do bordado em questão. Eu diria sem medo de errar: trata-se de pontos antigos, dum tempo bem atrás, quando bisavós e avós já os introduziam nos ensinamentos às filhas, netas e bisnetas. Hoje, os mesmos pontos são os pilares fundamnetais para qualquer bordado, e em qualquer tecido e /ou modelo, passíveis de modificações em sua estrura e encantamento.

Depois de tantos anos, tantos, estou inserida no mundo das bordadeiras. E, a alegria por descobrir que ainda sabia bordar, foi o incentivo para continuar e estimular outras pessoas para essa atividade[...]. Hoje, minha criatividade vale-se desses bordados básicos lá de trás e os utilizo em construções diversas, destacando sempre a natureza e seu coclorido. A partir daí, reiniciei o trabalho com bordados rústicos em camisetas de malha, lenços, toalhinhas de mão, caminhos de mesa e outros [...]

Em todo o Seridó/RN, os bordados à mão ou à máquina constituem-se ícones de excelência, nos trabalhos artesanais do presente. É preciso, então, preservá-los e aperfeiçoá-los, possibilitando sua suatentabilidade no meio circundante. [...]

CULTURA; bordados para um tempo novo

Aprendi a bordar ponto de cruz ou ponto cruz aos dez anos de idade, com a Profª Creuza Bezerra, em Currais Novos. Em 2 ou 3 dias na semana, nosso grupinho, talvez seis alunas, chegávamos às 14 horas à sua casa, no início da rua Vicaldo Pereira. Isso, depois das aulas em horário matutino, quando a professora desarnava crianças em leitura, contas, geografia e história, auxiliada por sua irmã, a Profª Crindélia e sua mãe Dona Guilermina. Muitas curraisnovenses de minha geração, e outras mais jovens tiveram o privilégio de conviver naquela escola, e com aquelas pessoas. Todas nós, das aulas de bordado, portávamos um pano de "meio-linho", tecido apropriado, e uma caixa com as linhas, tesoura e agulhas. Pacientemente, a Profª Creuza nos encaminhava ao bordado, seguindo desenhos específicos ao ponto de cruz. Não poderia haver erros na contação dos fios, resultando em lindas flores, aimais, barras com flores coloridas, cestos com frutos e outros motivos que nos encantavam.

O reultado daquela aprensizagem resultou em minha história de bordados pela vida afora, desde os enxovais de meus filhos, até motivos em panos bordados em linho, tão em voga no século passadp, usados em mesas, pendeadeiras e cômodas.

E ASSIM...

Tudo mudou, a terra mudou
os homens são outros
mas nada mudou
porque não mudou o amor...

Os poetas amorosos, sonhadores
continuam versos fazendo aos amados.
O peito dos amantes continua sufocado
e a face lavada em pranto de saudades...

E o sonho, o desejo continuam
na noite azul dos namorados.
E apenas a mocidade é louca?
Não!... Todos somos loucos
quando surge o amor
quando a paixão nos cega...

E a branca lua dos namorados
no céu continua, cobrindo-os de emoção,
a emoção mais pura
elevando os homens a Deus.


O Amor...

quarta-feira, 24 de junho de 2009

Canto do Galo

Meu Vô falou
o galo quando canta
é hora marcada
é hora, é hora, é hora...
O galo canta
o galo canta e dorme
outra vez canta o galo
o galo canta no poleiro...

Meia noite!
O galo bate as asas
o galo empina o bico
o galo canta
canta como clarim
cheio de graça canta o galo
canta pra anunciar
Jesus nasceu!

Cantar fora de hora
é mau agouro
é moça roubada.
Ao nascer da barra
o galo canta
duas vezes canta o galo
é canto de alegria!
O galo canta no terreiro...

segunda-feira, 22 de junho de 2009

M i r a g e m

Na placidez das aguas
desenhou-se outra mulher
multipliquei-me.
No encanto da manhã
dividí-me
banhando-me
sob raios de sol.

domingo, 7 de junho de 2009

TEM COCO, TÁ QUENTE!

Era o refrão
do vendedor de mugunzá.

Latas de zinco
atravessadas
em vara dependuradas
guardavam o manjar
nas costas do menino.

Seu grito
tem coco, tá quente!

Perdia-se à tardinha
ao longo da rua estreita
em tempos da Guerra!
Soldados com saudade
fome
enfeitavam as ruas
de Natal...

No azulão do céu
a estrela vespertina!

DA MINHA JANELA

Vi
o homem
sertanejo
sentar-se
em banco
da praça.

Gato preto
enroscou-se
em suas pernas
de mansinho
ronronando;
olhou ao redor.

Era sábado
de Judas
pardais cantavam
PAZ!
Véu de noiva
cobria o chão
vestindo a cidade
em novo dia - PÁSCOA!

R E T R A T O

á Zila (in memorian)

Em caixa guardado
sozinha furtei
retrato amado
pra ele olhei.

A vejo de perto
de olhos tristonhos
olheiras pintadas
escondem seus sonhos.

Cabelos sedosos
nos ombros caindo
contornam a face
amada - que lindo!

Seu vulto menina
faceiro, risonho
- embora bem longe
falava de sonho.

Fecho meus olhos:
de musgos molhada
vejo outra face
no mar encantada!

sexta-feira, 8 de maio de 2009

Mãe querida

Neste dia que lhe é consagrado, você dá mais um passo no caminho da vida.

Nesse pisar, e no amalhoar diuturno você vai desenhando sua marca: no trabalho, no seu jeito de ser e na invulgar capacidade de ser Mãe!

Por tudo isso Mãe, estamos todos aqui para homenageà-la, para dizer-lhe com simplicidade e amor: você conseguiu seus objetivos. Contudo, você tem, ainda, muito o que realizar. Hoje é apenas uma reflexão, um novo começar, pleno de energia e amor!

Portanto, colhemos juntos muitas flores - como você fez no seu caminho -, e vimos ofertar-lhe em singelo bouquet. Ele traduz o que você é:amor, ternura, desprendimento, sacrifício, bondade e coragem. E,ainda,nosso amor infinito por você!

Parabéns, Mãe!

* Prosa poética em homenagem a todas as Mães no dia que lhe é consagrado: 10 de maio de 2009

sábado, 25 de abril de 2009

Acari - Minha cidade

Cidade de sol no meu peito sertão adusto
Cidade primeira, secular madona
Erguida fronte, altaneiro busto
Do vale do rio, mais bela que a cremona.

Este teu porte divinal augusto
Domina o algodão do Seridó, a zona
Pioneira no Brasil, de seleção a custo.
No mundo a fibra, mais rica, és a Dona.

Cidade histórica, cidade preparada
Por Deus criada, a natureza se esmerou
Despertando manhãs ao som da passarada
De lindas serras, um colar te ofertou.

Rochas vivas pelo homem cinzeladas
Para o Gigante ali adormecer.
Tranquilo sonhar nas águas espalhadas
Há tantos anos, querendo ali viver.

- És tu, minha cidade! de sonho alcandorado.
Diáfanos teus dias, noites enluaradas.
Beijo-te o solo, meu berço muito amado.
Se lá não mais voltar, deixo-te o adeus às céleres pegadas.

Natal, 5-7-72.

Izaura Dantas de Araújo

* Estes belos versos foram-me entregues por Dona Iracema Galvão, amiga da autora, há muito tempo. Dona Izaura os escreveu com idade avançada. Portanto, merecem nossa atenção pela sua grandeza e significado para sua família e para o Acari.

quarta-feira, 22 de abril de 2009

O amanhã

[...]Que será do amanhã
quando a estrela vespertina riscar o céu
onde o rosa do poente já for noite escura
depois do entardecer azul?
Então
já não olharei o céu
pois a noite desceu
e não poderei cantar
os poemas de minha infância
nem pintar o quadro das serras azuis
visto das janelas da alma!

segunda-feira, 20 de abril de 2009

Açude Gargalheiras - 50 anos

O Seridó está em festa
Córregos, rios e cachoeiras
Águas nos desfiladeiros
Descendo nas ribanceiras
Em Currais Novos e Acari
Qualquer dia irei aí
Pra contemplar o Gargalheiras

E vai mais essa:

Acari é a vedete
Do Seridó com certeza
De agricultores e vaqueiros
Fenômeno da natureza
Cidade das cordilheiras
Parabéns a Gargalheiras!
De encantadora beleza!

* Versos do Dr. Luiz Humberto, veterinário do antigo PRONASA, em C. Novos.

quinta-feira, 16 de abril de 2009

NO QUARTO

No quarto
sombras de alegrias e tristezas
povoam paredes
cobrem rostos
dos retratos do tempo.

quarta-feira, 15 de abril de 2009

EMOÇÃO

Há tempos
não ouvia
um bem-te-vi
cantar.
Ontem
vi
um bem-te-vi
beijar a flor
cantar.
Meus olhos tristes
sorriram
ante a beleza!
Era manhã
vi o bem-te-vi
seu cantar ouvi!

CARTAS

Guardadas
na caixa
desbotadas
sexagenárias
nas linhas e entrelinhas
longa história de amor:
primeiro encontro
primeiro beijo
o ciúme
a valsa azul
na festa da despedida.
Saudade...

segunda-feira, 6 de abril de 2009

PRECE

Já é tarde. Maio se aproxima
e as chuvas continam presas
nas nuvens de chumbo
formando o dorso das serras azuis...
Contudo, temos esperança:
as tardes continuam quentes
e o vento do poente gera rodamoinhos
abelhas e formigas buscam novos abrigos...
E espero olhando os céus.

Espero nuvens cinzas despencarem
abortando grossos cordões de chuva
ao cair da noite...
Preces se unirão ao canto dos pássaros
flores cairão em pétalas sobre a terra úmida das chuvas...
Nas asas da estrela azul
você virá até nós e rezaremos juntos
Deus estará conosco!

Açude Gargalheiras

Homenagem pelos 50 anos do Açude Gargalheiras, em Acari.

Verde entremeia
tufos de plantas (xerófitas)
às pedras lisas
pintadas de lodo
acariciadas pelas águas.
Doverde esmaecido das águas
estrelas de prata
espelham raios de sol
na manhã plicrômica:
todos os tons
todos os sons
singular musical da natureza.

Espaço aberto do açude
aconchegado pelas serras
paisagem se alongando
desenhada em recantos mil.
Navios, aviões, peixes de pedra
habitam espaço
beijados com volúpia pelas águas.

Ao balouçar das maretas
canoas pescadores
arrastam redes
peixes pululando
marcando presença
afã madrugador
humanizando açude.

Nas prainhas de areias claras
homens/mulheres
esquecem seca,
fome, discriminação.
Nadam esquecidos de tudo:
é manhã de sol e beleza!

sexta-feira, 3 de abril de 2009

CONTEMPLAÇÃO, Maria José Mamede Galvão

Era uma tarde de sol muito quente. Ao aproximar-me da casa, contemplei o horizonte serrano lá para as bandas do Totoró. Fascinou-me a beleza sem imitação daquele cenário. Vislumbrei uma imensa bola de fogo que despencava por detrás das serras, enfeitada com linha sinuosa de picos, como se fosse uma renda de nuvens. Naquele momento, era como se um tecido de tule degradée rosa, vermelho, lilás, azul e cinza fizesse parte daquela singular pintura, formando um tela na própria natureza. Olhei novamente. Deparei-me com um grande contraste; nuances de azulão escuro e cinza-chumbo haviam se intercalado,compondo um novo quadro, quase negro. Em segundos, os tons alegres apagaram-se do espaço celeste, cedendolugar à escuridão que chamamos noite. Solitária, ante o negror daquela imensidão dos céus, tímida e majestosa nasce a estrela vespertina!... Durante algum tempo, ela permaneceu sozinha... piscando, piscando para a terra, como se enviasse uma mensagem de paz, serenidade e amor, àquela hora do Ângelus... Lentamente, outras estrelas foram surgindo, apresentando um ballet clássico no infinito, enquanto a noite se tornava real...
Ao chegar em casa, entrei na sala de jantar, e, como de costume, olhei para além das serras azuis da Serra de Sant´Ana. Da minha janela, eu desejava confirmar o que aprendera naqueles instantes de muda contemplação.

* Este texto foi publicado no DN/Seridó, em dezembro de 2007.

quarta-feira, 25 de março de 2009

GRUPO ESCOLAR "TOMÁZ DE ARAÚJO": cem anos de educação cultura e tradição (1)

Abro o livro do saudoso escritor acariense Bianor Medeiros, TEMPO DE MEINO (1986). Procuro dados oficiais sobre o tema acima. Encontro informes do coração. Minha emoção atrapalhou a leitura. Meu coração chorou. Contudo, não desisti.Continuei a leitura. Na página doze, ele iniciava assim: As aulas no Thomas de Araújo começavam às 7 da manhã. Os alunos iam chegando, com vestes simples, mas limpas e engomadas e procuravam os lugares determinados pelos mestres. Salas para os meninos, do lado direito; das meninas, do lado esquerdo.

Mandados entrar, após oração devida, todos os alunos punham as mãos sobre as carteiras a fim de que a professora examinasse se as unhas estavam limpas e devidamente aparadas, sem deixar de examinar cabelos, ouvidos, vestes e dentes. O asseio era indispensável e obrigatório. Valia ponto.

Com estas palavras. Bianor iniciou sua oração sobre o Grupo Escolar, assim denomindo por ele; naturalmente, a escola muito amada em sua infância! Descreve no texto, as características daquela prieira escola pública do Acari - e a terceira do Estado - oportunizando-nos compará-las com outras semelhantes, através dos tempos.

Suas palavras me impulsionaram a iniciar esta mensagem de saudade, portanto, com emoção, enaltecendo o Grupo Escolar "Tomáz de Araújo";[...]

[...] Na data de 13 de março, Acari aplaudiu em toque de clarim (como um prólogo) o nascer desta escola em 1909. A matriz da Virgem da Guia vestiu-se de flores; iluminou-se com os cânticos do Coral "Amália Rodrigues", com as palavras ditas em homenagens diversas [...] Na festa da Virgem da Guia, Acari receberá seus filhos ex-alunos e ex-professores, viandantes da vida, junto àqueles que permanecem no seu lugar de origem, para a saudação à inesquecível escola! [...]

Observação:

Este texto será publicado no Fotoblog Acari do meu amor, de Jesus e no Diário de Natal - DN Seridó, no sábado ou domingo próximos.

terça-feira, 24 de março de 2009

Resquícios

A música
a dança
penetraram no rio
do meu sangue
desde tempo de menina
- chão primeiro
onde dancei quadrilhas
com o avô.

segunda-feira, 16 de março de 2009

Se eu pudesse...

Se eu pudesse
enxergar profundo
naquele momento
não teria dito:
- até logo
- até amanhã
- te vejo
- adeus, meu amor

ESTRELA CADENTE

Uma estrela riscou o céu

corri para pegá-la

rápido deslizou em minhas mãos

como tempo que passa

como sonhos desfeitos...

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

MARIA CABOCLA

Onde estás
traços de menina
serra subia
chinelo na mão
toalha na cabeça
vestido de algodão?

Onde estás
rosto de donzela
serra descia
terço pra rezar
cantigas viola
noite de luar?

Onde estás
marcas de matrona
serra descia
feira pra fazer
jumento balaio
caminho a percorrer?

Onde estás
sombra do ontem
veste molhada
roupas a lavar
cerca cansaço
hora de voltar?

Onde estás
riso cristalino
voz cadenciada
histórias a contar
banco balanço
menino a escutar?

Maria José Mamede