sábado, 25 de abril de 2009

Acari - Minha cidade

Cidade de sol no meu peito sertão adusto
Cidade primeira, secular madona
Erguida fronte, altaneiro busto
Do vale do rio, mais bela que a cremona.

Este teu porte divinal augusto
Domina o algodão do Seridó, a zona
Pioneira no Brasil, de seleção a custo.
No mundo a fibra, mais rica, és a Dona.

Cidade histórica, cidade preparada
Por Deus criada, a natureza se esmerou
Despertando manhãs ao som da passarada
De lindas serras, um colar te ofertou.

Rochas vivas pelo homem cinzeladas
Para o Gigante ali adormecer.
Tranquilo sonhar nas águas espalhadas
Há tantos anos, querendo ali viver.

- És tu, minha cidade! de sonho alcandorado.
Diáfanos teus dias, noites enluaradas.
Beijo-te o solo, meu berço muito amado.
Se lá não mais voltar, deixo-te o adeus às céleres pegadas.

Natal, 5-7-72.

Izaura Dantas de Araújo

* Estes belos versos foram-me entregues por Dona Iracema Galvão, amiga da autora, há muito tempo. Dona Izaura os escreveu com idade avançada. Portanto, merecem nossa atenção pela sua grandeza e significado para sua família e para o Acari.

quarta-feira, 22 de abril de 2009

O amanhã

[...]Que será do amanhã
quando a estrela vespertina riscar o céu
onde o rosa do poente já for noite escura
depois do entardecer azul?
Então
já não olharei o céu
pois a noite desceu
e não poderei cantar
os poemas de minha infância
nem pintar o quadro das serras azuis
visto das janelas da alma!

segunda-feira, 20 de abril de 2009

Açude Gargalheiras - 50 anos

O Seridó está em festa
Córregos, rios e cachoeiras
Águas nos desfiladeiros
Descendo nas ribanceiras
Em Currais Novos e Acari
Qualquer dia irei aí
Pra contemplar o Gargalheiras

E vai mais essa:

Acari é a vedete
Do Seridó com certeza
De agricultores e vaqueiros
Fenômeno da natureza
Cidade das cordilheiras
Parabéns a Gargalheiras!
De encantadora beleza!

* Versos do Dr. Luiz Humberto, veterinário do antigo PRONASA, em C. Novos.

quinta-feira, 16 de abril de 2009

NO QUARTO

No quarto
sombras de alegrias e tristezas
povoam paredes
cobrem rostos
dos retratos do tempo.

quarta-feira, 15 de abril de 2009

EMOÇÃO

Há tempos
não ouvia
um bem-te-vi
cantar.
Ontem
vi
um bem-te-vi
beijar a flor
cantar.
Meus olhos tristes
sorriram
ante a beleza!
Era manhã
vi o bem-te-vi
seu cantar ouvi!

CARTAS

Guardadas
na caixa
desbotadas
sexagenárias
nas linhas e entrelinhas
longa história de amor:
primeiro encontro
primeiro beijo
o ciúme
a valsa azul
na festa da despedida.
Saudade...

segunda-feira, 6 de abril de 2009

PRECE

Já é tarde. Maio se aproxima
e as chuvas continam presas
nas nuvens de chumbo
formando o dorso das serras azuis...
Contudo, temos esperança:
as tardes continuam quentes
e o vento do poente gera rodamoinhos
abelhas e formigas buscam novos abrigos...
E espero olhando os céus.

Espero nuvens cinzas despencarem
abortando grossos cordões de chuva
ao cair da noite...
Preces se unirão ao canto dos pássaros
flores cairão em pétalas sobre a terra úmida das chuvas...
Nas asas da estrela azul
você virá até nós e rezaremos juntos
Deus estará conosco!

Açude Gargalheiras

Homenagem pelos 50 anos do Açude Gargalheiras, em Acari.

Verde entremeia
tufos de plantas (xerófitas)
às pedras lisas
pintadas de lodo
acariciadas pelas águas.
Doverde esmaecido das águas
estrelas de prata
espelham raios de sol
na manhã plicrômica:
todos os tons
todos os sons
singular musical da natureza.

Espaço aberto do açude
aconchegado pelas serras
paisagem se alongando
desenhada em recantos mil.
Navios, aviões, peixes de pedra
habitam espaço
beijados com volúpia pelas águas.

Ao balouçar das maretas
canoas pescadores
arrastam redes
peixes pululando
marcando presença
afã madrugador
humanizando açude.

Nas prainhas de areias claras
homens/mulheres
esquecem seca,
fome, discriminação.
Nadam esquecidos de tudo:
é manhã de sol e beleza!

sexta-feira, 3 de abril de 2009

CONTEMPLAÇÃO, Maria José Mamede Galvão

Era uma tarde de sol muito quente. Ao aproximar-me da casa, contemplei o horizonte serrano lá para as bandas do Totoró. Fascinou-me a beleza sem imitação daquele cenário. Vislumbrei uma imensa bola de fogo que despencava por detrás das serras, enfeitada com linha sinuosa de picos, como se fosse uma renda de nuvens. Naquele momento, era como se um tecido de tule degradée rosa, vermelho, lilás, azul e cinza fizesse parte daquela singular pintura, formando um tela na própria natureza. Olhei novamente. Deparei-me com um grande contraste; nuances de azulão escuro e cinza-chumbo haviam se intercalado,compondo um novo quadro, quase negro. Em segundos, os tons alegres apagaram-se do espaço celeste, cedendolugar à escuridão que chamamos noite. Solitária, ante o negror daquela imensidão dos céus, tímida e majestosa nasce a estrela vespertina!... Durante algum tempo, ela permaneceu sozinha... piscando, piscando para a terra, como se enviasse uma mensagem de paz, serenidade e amor, àquela hora do Ângelus... Lentamente, outras estrelas foram surgindo, apresentando um ballet clássico no infinito, enquanto a noite se tornava real...
Ao chegar em casa, entrei na sala de jantar, e, como de costume, olhei para além das serras azuis da Serra de Sant´Ana. Da minha janela, eu desejava confirmar o que aprendera naqueles instantes de muda contemplação.

* Este texto foi publicado no DN/Seridó, em dezembro de 2007.