sexta-feira, 3 de abril de 2009

CONTEMPLAÇÃO, Maria José Mamede Galvão

Era uma tarde de sol muito quente. Ao aproximar-me da casa, contemplei o horizonte serrano lá para as bandas do Totoró. Fascinou-me a beleza sem imitação daquele cenário. Vislumbrei uma imensa bola de fogo que despencava por detrás das serras, enfeitada com linha sinuosa de picos, como se fosse uma renda de nuvens. Naquele momento, era como se um tecido de tule degradée rosa, vermelho, lilás, azul e cinza fizesse parte daquela singular pintura, formando um tela na própria natureza. Olhei novamente. Deparei-me com um grande contraste; nuances de azulão escuro e cinza-chumbo haviam se intercalado,compondo um novo quadro, quase negro. Em segundos, os tons alegres apagaram-se do espaço celeste, cedendolugar à escuridão que chamamos noite. Solitária, ante o negror daquela imensidão dos céus, tímida e majestosa nasce a estrela vespertina!... Durante algum tempo, ela permaneceu sozinha... piscando, piscando para a terra, como se enviasse uma mensagem de paz, serenidade e amor, àquela hora do Ângelus... Lentamente, outras estrelas foram surgindo, apresentando um ballet clássico no infinito, enquanto a noite se tornava real...
Ao chegar em casa, entrei na sala de jantar, e, como de costume, olhei para além das serras azuis da Serra de Sant´Ana. Da minha janela, eu desejava confirmar o que aprendera naqueles instantes de muda contemplação.

* Este texto foi publicado no DN/Seridó, em dezembro de 2007.

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