quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Sou raíz, sou chão
pássaro e aboiadeiro
sou rio, sou canção
cancela e caminheiro
sou chuva, sou trovão
minério e cavaleiro...


Sou sol, sou amanhecer
lajedo, açude e calor
sou cacimba, sou entardever
vereda, espinho e flor
sou lua, sou anoitecer
poema, viola e cantador...

Sou a seca, sou Seridó.

. Poema extraído da Introdução do livro de minha autoria, Entre sertãO e mar:
CAMINHOS, Natal, EDUFRN, 2007.

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

HOMENAGEM AO CENTENÁRIO DO GRUPOE SCOLAR "TOMÁZ DE ARAÚJO"

Na data de 13 de março de 2009, Acari aplaudiu, em toque de clarim (como num prólogo), o nascer desta escola no ano de 1909. A Matriz da Virgem da Guia vestiu-se de flores ao som dos cânticos do Coral "Amália Rodrigues de Carvalho"; das palavras proferidas em homenagens diversa; e da sonoridade inconfundível da Filarmônica "Felinto Lúcio Dantas" - um prenuncio do grande preito ora acontecendo.
Este momento da Festa de Nossa Senhora da Guia foi uma escolha ímpar e criteriosa para a culminância das homenagens exaltando a grandeza desta escola: cem anos de educação, cultura e tradição aqui disseminadas. Portanto, esta mensagem está impregnada de saudades, de emoções diversas, na significação mais pura para os acarienses que se sentaram em suas carteiras, transeuntes das salas de aula, cujo diálogo professor-aluno gravou-se em sua alma e foi ressonância para além, através das largas janelas da Escola.
Enaltecer o Grupo Escolar "Tomáz de Araújo" é falar de uma escola de vida, de alegria e criatividade; escola de grandes mestres e alunos brilhantes. Escola que durante cem anos de existência, tentou acompanhar as mudanças na educação e na cultura, onde a prática curricular se desenvolvia coerente com o crescimento do Acari, e com o progresso em termos de Estado, Brasil e do Mundo, neste terceiro milênio.
Para este evento foi inprescindível o esforço coletivo dos que hoje compõem esta escola - gestores, supervisores, professores, fucinários, alunos e os pais; e, ainda, os que por aqui passaram - os diversos atores que proporcionaram a educação, e aqules que a receberam, viandantes do tempo, para o ato único na sublimação do homem - O ENSINAR E O APRENDER.
E, desde os primeiros mestres que essa emoção - a sublimação desse ato - conduziu os homens e mulheres do Acari à descoberta do mundo através das janelas da alma. Desde a Carta de ABC, a Cartilha Ensino Rápido; os primeiros cálculos aritméticos; a geometria; a caligrafia e o ditado; o desenho, até os modernos recursos de aprendizagem - livros, revistas, fotografias,internet, pesquisas científicas diversas, natureza. Os que caminharam por esta escola, tiveram oportunidades diversas para tornarem-se pessoas capazes de projetar e conquistar sua própria destinação no mundo.
Na oferta de um ensino de qualidade, houve um esforço de toda a comunidade escolar, onde o lazer, o esporte, a criatividade - a poesia, a dança, o teatro, a música contribuissem para o somatório da cultura que cada um poude e soube amealhar.
Embora com a emoção atrapalhando meu coração, repito as palavras do saudoso escritor acariense Bianor Medeiros, em seu livro Tempo de Menino, ao referir-se às atividades rotineiras da velha escola, e que perduraram por longos anos: "as aulas do Grupo Escolar começavam às 7 da manhã. Os alunos iam chegando, com vestes simples, mas limpas e engomadas, e procuravam os lugares determinados pelos profesores.[..] Mandados entrar, após a oração devida, todos os alunos punham as mãos sobre as carteiras, a fim de que a professora examinasse se as unhas estavam limpas [...], sem deixar de examinar os cabelos, ouvidos, vestes e dentes. O asseio era indispensável e obrigado. Valia ponto." Mas, isso foi há muito tempo! É apenas uma ilustração. É importante refletir-se em seu significado.
Anos depois, ouviam-se as vozes infantis dos alunos entoando o Hino Nacional Brasileiro nesse início de aulas, e às quinta-feiras, mais solenemente, ao hastear-se a Bandeira Nacional. Ao lado dos alunos, os dirigentes, professores e funcionários assistiam atentos. Ao adentrar-se na escola, continuava-se a ouvir cânticos de saudação aos professore e colegas, bem como, de alegria pela saborosa merenda ofetada antes do recreio.
Hoje é um tempo novo. São outros homens, outros atores no processo ensino e aprendizagem. A história da educação registra, que houve grandes mudanças ao longo do tempo, na intenção de ofertar-se um ensino de qualidade, através de novas e surpreendentes tecnologias e processos avançados para o ensino.
Parabéns, portanto, a todos que deram de si e de seu amor para essa oferta, capaz de atender aos reclamos universais do Século XXI.
Parabéns, Grupo Escolar "Tomáz de Araújo". Acari, o Rio Grande do Norte associam-se ao elenco de homenagens por esse tempo tão significativo - Cem anos!
Obrigada pelo convite. Grata, ainda, por representar, com muita honra, minhas companheiras - primeiras gestoras -, que hoje se encontram numa dimensão maior: Professoras Mirtes de Araújo Bezerra, Iracema Brandão de Araújo e Almira de Araújo, aqui representadas por familiares; e ex-gestoras da atualidade, representadas pelas Professoras Jória Rivone Galvão, e Tânia Maria, atual gestora.

Obrigada, meu Deus, por fazer parte desta história, com a intercessão da Virgem da Guia!.

Acari, 11 de agosto de 2009.

MENINAS-BAILARINAS

às meninas bailarinas de Acari (anos 60)

Era uma escola antiga. De salas amplas e claras, altas paredes, povoadas de meninos e meninas em tempo de estudos, em tempo de festas. Uma delas, a maior, abriga imagens das pessoas ausentes que por ali passaram e o éco das festas sociais, das solenidades, de reuniões, das aulas. Ao fundo, um gracioso palco, um lugar de cultura e encantamento... de sonhos e de realidade. Era o centro das emoções: as grandes falas... as danças... o teatro... o canto... a poesia... o amor...
De um canto da grande sala, naquela tarde, uma vitrola antiga acionava disco negro de vinil (78 rotações). Voavam os sons ao palco, onde a dança acontecia em cenário de jardim. A agulha tocava o disco girando, girando até as últimas ranhuras. A melodia produzida repetidas vezes nos transportava a ambientes inusitados, antes nunca visto por nós...
As meninas-baiarinas, na ponta do pé, eram bonecas de louça a espera do gesto, e do som pra dança começar. De início, movimentos eram graciosidade, languidamente: sílfides beijando a flor...abelhas colhendo o mel... borboletas voando à luz do luar. Os braços arqueados subiam e desciam, em graciosos movimentos de bailarinas, tal qual folhas alongadas sacudidas pelo vento em tardes de verão.
Depois, a dança tornava-se rápida, modificava-se: em passos saltitantea, as meninas-bailarinas assemelhavam-se a peões soltos do fio, rodopiando, rodopiando, como se fosse em famosos palcos da vida... E, então, iam e vinham em círculos, de mãos dadas, do centro à fímbria, como se bailassem sòzinhas no espaço de festas - ora lentas, ora rapidamente, ao compasso da melodia húngara. Então, as meninas-bailarinas transfiguravam-se no ambiente de sonhos, como no ballet clássico, no minueto, nos bailes de máscaras, nas valsas e mazurcas dançadas em castelos medievais...
Ao final,na ponta do pé, em movimentos contrastantes, iam e voltavam do grande círculo ao centro, olhos pro alto, mãos juntas em pétalas: flores coloridas arrumadas num bouquet. Em seguida, dobravam o corpo em reverência à "grande platéia do teatro". Então, repetiam aquele movimento gracioso, à medida que as palmas multiplicavam-se em écos no antigo espaço da escola. Depois, em passos saltitantes e riso nos lábios, sumiam por trás do pano de veludo, linda cortina vermelha tremulante ao vento que soprava da janela ao lado.
À frente do grupo, esquecida do tempo, atenta e feliz, a professora aplaudia a construção artística das meninas-bailarinas naquele ensaio, ao som da melodia húngara.
Não, não foi um sonho. Aquela realidade relevou a escola antiga, e as meninas-bailarinas deixaram marcas de cultura e beleza: ressonância na alma pela gravação dos sons imortais da música de Czardas!
Hoje, ao manusear minha coleção de LPs, vejo aquelas imagens e escuto os sons incríveis daquela melodia, cuja beleza e significado me transportam àqueles momentos, num tempo irreversível, sem retorno... O tempo das meninas-bailarinas...

(Texto publicado no DIário de Natal-DN Seridó, no dia 24 de abril de 2008, aqui postado a pedido de pessoas presentes na Solenidade em comemoração ao Centenário do G.E. "Tomáz de Araújo, em Acari, no dia 11 de agosto de 2009, quando foi lido na programação oficial, por uma professora).

domingo, 2 de agosto de 2009

CARTA ABERTA A ACARI

Em agosto de 1996.


Antes, num outro momento, eu escrevera [...]"as cidades têm fisionomia, têm alma como as pessoas. Isto as tornam distintas. São singulares, únicas, não existem aos pares"[...] Estas palavras tiveram ressonância, ecoaram no meu sentimento por ti Acari, neste agosto sui generis, inspiração de poesias, cantos, amores, encontros, emoções...
Acari, quero dizer que tua fisionomia é ímpar. Não existe outra. Registra-se no desenho de tuas ruas, onde o casarão antigo destaca-se entre claras e modernas casas ajardinadas; nas belas praças e nos tapetes de flores multicoloridas das ruas; na austeridade e na imponência de tuas igrejas seculares; na velha e na nova ponte do rio Acauã; no museu e monumentos históricos; em tuas alegres escolas; no espelho de prata das águas do Gargalheiras; na moldura anilada das serras abraçando teu espaço.
Acari, quero falar, ainda, de tua alma. Tua alma é teu povo. É a história de teus habitantes. É "o que fazer" cotidiano dos homens e mulheres impressos nas marcas do tempo, na construção ininterrupta do amanhã. São as crenças, as esperanças, as angústias, as contradições das lutas do homem, na geração do desenvolvimento e da cultura. São as emoções das lembranças impregnadas no tempo, daqueles que ora habitam mansões celestiais.
Portanto, Acari, tua fisionomia e tua alma compõem uma totalidade, onde o amor e o desamor do homem escreveram tua história. Sob esta ótica, cada ACARIENSE foi uma página desse registro, na contribuição explícita, ou não para seu enredo.
Acari, em agosto tua história tem mais emoção, sentimento. É tempo de orar, de agradecer, de amar. É a festa da VIRGEM DA GUIA - momento de reencontro, de mãos acenando, de serestas, de banda de música tocando dobrados, de fogos, de lágrimas...

[...]"Acari! Agosto te encontrou em tua Igreja
azul/rosa/dourada em sombra de cruz" [...] (Maria José Mamede Galvão)

Acari, a ti a mensagem de tua ilustre filha:
[...]"Cantemos o Acari!

És tu minha cidade! de sonho alcandourado!
Diáfanos teus dias, noites enluaradas!
Beijo-te o solo, meu berço muito amado.
Se aqui não mais voltar, deixo-te o adeus
às celeres pgadas" (Izaura Dantas de Araújo, in memorian.).


(Texto publicado em Revista do Acari no mesmo ano, com algumas correções).