terça-feira, 21 de setembro de 2010

Imagens

Todos ainda dormem.
E o sereno da manhã nascitura
veste de branco
(como num instante único)
o verde dos roçados bordados
de flores amarelas
respirando, de longe
o ar que das serras desce.

E folhas secas
enroladas pelo vento andarilho
forram os caminhos quentes da tarde
minorando as dores e a solidão dos homens
no retorno do trabalho sertanejo.

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Poema; Palmira Wanderley

Clara a manhã de ouro desfia
A meada de luz para tecer o dia.
Já a estrela da Alva tão formosa e boa
Terminara a tarefa de fiar,
Nas derradeiras flores de estiagem,
A toalha do altar,
Para a boda selvagem
Do cajueiro em flor e da lagoa...

Ao longe, os morros verdes,
Embebidos na luz da manhã cor de rosa,
Mostraram ao sol as flores da grinalda
Da noiva casta, linda e venturosa.

domingo, 12 de setembro de 2010

BANHO DE LUA

A lua continua sua incursão pela natureza. Não posso vê-la no momento. Naturalmente, está cumprindo a missão que lhe foi destinada: vencendo, dialeticamente, sua trajetória num 'contínuo' circular de altos e baixos, de claros e escuros, de luzes e sombras.
Por isso, por esperá-la no cumprimento dessa missão, não coloquei minha cadeira na calçada da casa onde moro. Esses momentos são especiais. Coletivos, de múltiplos espaços, Hoje, não há momentos, apenas, para reviver tradições e costumes sertanejos. Neste momento, além da escuridão, há muito barulho na cidade, afetando minha rua. Há festa com dança e música, há buzinaços, há roncos de motores dos automóveis, há gritos de euforias dos homens e mulheres, há sons de pagodes, axés com batidas originariamente diversas, em tambores e tamborins.
E a noite vestida de negro, contaminada por esses sons espalhados pelos ventos, não é propícia a aconchegos nas calçadas. Alguns, solitários, costumeiramente, arriscam-se a balançar-se em sua cadeiras; outros, preferem esperar o retorno do brilho da lua, como eu.
Nesse retorno à tradição, as calçadas revestem-se de luzes - um misto de prazer e sedução -, quando em noites do banho dourado da lua. Seus raios diáfanos, claros, permitem-nos avistar, de longe, as pessoas em grupos pelas suas calçadas, participantes dos saraus de poesias e canções, de risos, de falas, de abraços, de alegria e saudade, enfim, de emoções diversas.
E, ainda, é possível cumprimentar e abraçar os que caminham pela rua - 'os passantes' -, aqueles que desejariam, também, estar ali, participando da homogeneidade do grupo, naquele aconchego singular: recordando fatos do passado, fazendo planos, contando de suas esperanças, vitórias ou de suas desventuras, enfim, trocando idéias, contando 'causos', jogando conversa fora durante aquele banho de lua.
Ali, naqueles momentos singulares, às vezes, todos falam ao mesmo tempo... Quem sabe... Talvez, na próxima lua cheia, tudo tenha mudado... Porque, como disse um poeta: "A vida é, apenas, um instante que passa".
E num outro olhar por esta rua, de onde estou, diviso um rio que a corta banhando-a com suas águas - ora turbulentas, ora mansas -, lá no começo da ladeira, onde os homens e mulheres iniciaram a história desta cidade: esta foi uma de suas ruas nacituras, construídas pelo esforço dos que aqui chegaram, aqui viveram e cresceram, impregnados da Fé e Amor à Sant´Ana.

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Caminhos

Andei. Andei pelos seus caminhos
cheios de sóis e luas. O vento forte
não desmanchou meus cabelos castanhos
longos e lisos. Nem a brisa da tarde
empurrando as maretas
dedilharam as cordas do meu coração.
Ouvia-se, apenas, o murmúrio do canto
da saudade: um sussurro
que se perdeu na areia...